Porque Miss Marvel é um MARCO das HQs
Uma história simples recheada de simbolismos poderosos e representatividade aponta novos caminhos e mudanças significativas na cultura pop e em nossa sociedade
PODE CONTER SPOILERS
A tão celebrada e esperada HQ da Marvel, Miss Marvel (G. Willow Wilson e Adrian Alphona – Marvel/Panini) lançada em outubro de 2014 nos EUA e no começo de fevereiro deste ano no Brasil pela Panini é, sim, uma referência para os quadrinhos contemporâneos em termos de representatividade, diversidade, crítica social, tanto quanto foram Watchmen ou V de Vingança nos anos 80.
Ela chegou de mansinho, não fazendo tanto barulho e não chocando tanto quanto a narrativa impactante e poética de Alan Moore, mas, escrevam o que estou falando:ela é uma daquelas HQs para qual, futuramente vocês vão olhar com orgulho na coleção e falar “Esta HQ mudou MUITA COISA nos quadrinhos.”
Exagerando? Não. Apenas analisando como uma leitora e crítica de quadrinhos que enxergou em cada balão e traço da história novos rumos, esperança, igualdade, respeito e orgulho. Curioso que, um amigo meu, editor de HQs, conversando sobre ela outro dia me disse que não havia visto nada de mais na história. De fato, a trama não tem nada de mais mesmo. É a história de uma típica adolescente dos anos 20xx às voltas com problemas característicos da idade: escola, garotos, liberdade cerceada pelos pais, internet, tentativas de encontrar seu rumo na vida, seus hobbies, que entra em contato com a Névoa Terrígena e é transformada em uma Inumana, que por sua vez assume a identidade de Miss Marvel (que um dia foi da Capitã Marvel, Carol Danvers, de quem a protagonista é fã, aliás.)
A partir daí, a trama se desenrola na típica jornada do herói: ela tentando entender a razão de ter sido escolhida, ela lutando contra tal fato, ela se atrapalhando toda e tentando se adaptar aos novos poderes e entendendo seu papel no mundo daquele momento em diante ….talvez esse meu amigo não tenha se atentado ao fato de que a protagonista da história era uma MENINA. Talvez ele não tenha reparado que ela era uma menina MUÇULMANA (o que não é muito comum, ainda mais em um gibi de um selo americano tão tradicional). Talvez não tenha constatado que, logo nas três páginas iniciais, o autor CRITICA o senso comum americano e o modo leviano como este povo trata seus imigrantes. Talvez ele não tenha percebido o fato de que o autor faz questão de apresentar uma cultura diferente da americana de uma forma empática e engajada que faz com que o leitor se identifique imediatamente e causando simpatia e aceitação…é, talvez ele não tenha captado nada disso.
Mas a gente, sim ? e por isso, vamos listar:
10 razões que fazem de Miss Marvel um MARCO nas HQs
Representatividade
-´Protagonista mulher. Não importa se é badass, ou tímida, gorda ou magra, alta ou baixa, paquistanesa ou curda, é mulher e celebramos a cada protagonista mulher sim, até que isso venha a ser a coisa mais normal do mundo, como deveria ser, aliás. E ela PROTEGE um homem. E isso é abordado e mexe com a masculinidade dele. Check!
Diversidade
Kamala é paquistanesa e isso é abordado de uma forma linda na história. Desde o dialeto que fala, até costumes, uso do véu, papel da mulher em sua sociedade, tudo é apresentado de uma forma leve e empática que faz com que enxerguemos a personagem como uma IGUAL, que é o que ela é, oras.
Indice Bechdel
As conversas de Kamala e das demais personagens NÃO GIRAM em torno de HOMENS ? e isso é sensacional
Bom Humor
O humor de Miss Marvel é diferente. Não queria usar a palavra “inocente” não é, mas é sagaz. É rápido no gatilho, como seria o de uma adolescente antenada e inteligente. É um humor com traço feminino é MUITO gostoso de ler.
Valores
Kamala questiona valores a todo momento. Testa-os, analisa-os para decidir qual deles vai abraçar e defender, exatamente o que uma adolescente saudável e consciente faria. Sao valores de família, valores morais, valores socioculturais, religiosos que são postos à prova a todo instante e que no final acabam emprestando um teor “educativo” à HQ sem ter aquele tom professoral e chato cagador de regra sobre o qual ninguém quer saber.
Cultura Nerd e transmidia
Kamala é nerd de games e escreve fanfictions dos Vingadores na Internet. Vários jogos são mencionados durante a história e a todo momento ela consulta quantos likes suas fanfics tiveram em sites especializados.
Referências
Ela usa uma POCHETE. Sem mais.
Autora
G. Willow Wilson é uma roteirista americana que se converteu ao islamismo. Depois de se graduar na faculdade, mudou-se para o Cairo, no Egito, onde se tornou a primeira mulher ocidental a entrevistar o Xeique Ali Gomaa, um dos mais influentes clérigos do islã moderno.
Ilustrações
A arte de Adrian Alphona é linda. Ele ficou conhecido pelo traço limpo e ágil de Fugitivos e Capitão Britânia.
Edição – A edição da Panini com capa dura e tradução acurada está bem legal e vale a pena ter na estante.
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